terça-feira, 12 de abril de 2011

O que é o batismo com o Espírito Santo e com fogo? (2)


No artigo anterior, procurei demonstrar, pela analogia geral da Bíblia, que o batismo com o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11; Lc 3.16) é uma coisa só, não havendo base contextual suficiente para a criação de outro batismo de julgamento, distinto do batismo com o Espírito Santo.

Segue-se que o fogo, nas passagens sinóticas mencionadas, foi empregado tão-somente para ajudar-nos a compreender, pela sua riqueza simbólica, a multíplice manifestação do Espírito na igreja. Não foi por acaso que o apóstolo Paulo asseverou: “Não extingais [apagueis] o Espírito” (1 Ts 5.19).

Paulo usou a figura do fogo para ilustrar a manifestação do Espírito no meio do povo de Deus. Isso porque o fogo alastra-se, comunica-se, purifica, ilumina, aquece, etc. Assim é a manifestação do Espírito como fogo.

Para muitos, a dificuldade em aceitar o batismo com o Espírito Santo e com fogo deve-se ao fato de a salvação em Cristo também ser descrita, figuradamente, como um batismo (1 Co 12.13, Gl 3.27; Ef 4.5). Todos os salvos, verdadeiramente, foram batizados pelo Espírito, imersos, feitos participantes do Corpo místico de Cristo, que é a sua Igreja (Hb 12.23; 1 Co 12.12ss). Nesse batismo da conversão, recebemos vida de Deus, mas o batismo com o Espírito e com fogo confere-nos poder de Deus (At 1.8).

Os discípulos que foram agraciados com o revestimento de poder no dia de Pentecostes já eram salvos! Observe a promessa que o Senhor havia feito a eles: “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5).

Quando o apóstolo Paulo passou por Éfeso, depois de Apolo, disse aos salvos que ali estavam: “Certamente João [Batista] batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam” (At 19.4-6).

Portanto, num sentido, todos os salvos foram batizados pelo Espírito Santo no Corpo de Cristo. Noutro, nem todos foram batizados com o Espírito Santo e com fogo, conquanto esse dom esteja à disposição de cada salvo em Cristo. Afinal, essa “promessa [...] diz respeito [...] a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39).

Amém?

Ciro Sanches Zibordi

O que é o batismo com fogo?


Na lição 2 da Escola Bíblica Dominical (estudada no último domingo), das Lições Bíblicas deste trimestre (CPAD), está escrito: “Em Lucas 3.16, o fogo é apresentado como elemento purificador na vida de quem recebe o batismo com o Espírito Santo”. Mas, como explicar o fato de João Batista ter falado do fogo do juízo e, no mesmo contexto imediato, aludir a uma ministração do Espírito Santo?

Em Lucas 3.16, lemos: “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias; este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. Essa passagem e também Mateus 3.11 nos apresentam, a rigor, dois tipos de batismo: (a) em águas, para arrependimento, e (b) com o Espírito Santo e com o fogo, um revestimento de poder para os salvos em Cristo (cf. Lc 24.49; At 1.5,8; 2.1-4).

Para interpretar as passagens bíblicas corretamente, além da iluminação do Espírito, precisamos levar em conta os princípios da Hermenêutica Bíblica — a arte e a ciência de interpretar os textos das Escrituras. E a principal função dessa matéria é aclarar passagens de difícil compreensão (cf. 2 Pe 3.16), conquanto seja também muito útil na interpretação geral das Escrituras.

O princípio dos princípios de interpretação (a regra áurea) da Hermenêutica Bíblica é: A Bíblia interpreta a própria Bíblia (cf. 2 Pe 1.20,21). Ou seja, as Escrituras são análogas. E, nesse caso, para interpretar uma passagem bíblica, é preciso considerar todos os tipos de contextos: (a) contexto geral; (b) contexto imediato; (c) contexto remoto: há alusões do Gênesis em Hebreus, por exemplo, que complementam o que está no primeiro livro do Antigo Testamento; (d) contexto referencial: passagens paralelas; (e) contexto histórico: época, cultura, ocasião, propósito original dos textos em estudo, etc.; (f) contexto literário: cada parágrafo é uma unidade de pensamento da revelação da Bíblia; (g) contexto cultural: estudo sobre os povos bíblicos.

No caso de Lucas 3.16 (ou Mateus 3.11), o contexto imediato não é suficiente para uma correta interpretação. Por quê? Porque, por meio dele, o exegeta pode ser induzido a interpretar, apressadamente, que há mesmo uma distinção entre o batismo com o Espírito Santo (uma bênção) e o batismo com fogo (juízo divino). E essa conclusão não é corroborada por todos os contextos mencionados.

Em primeiro lugar, o próprio Senhor Jesus, antes de sua ascensão, fez menção do revestimento de poder aludido por João Batista nos seguintes termos: “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5). Observe que o Senhor não apresenta o “batismo com fogo”, dando a entender que o Batista apenas aludiu ao fogo de maneira simbólica, para enfatizar os seus aspectos, ilustrando as ministrações do Espírito: iluminação, fervor, purificação, etc.

É importante considerar que João Batista, a despeito de aparecer no Novo Testamento, exerceu um ministério profético nos moldes do Antigo Testamento (Lc 16.16). E para os profetas veterotestamentários era comum falar de bênçãos e juízos de modo intercalado. Veja o caso de Isaías 61.1-3. O profeta discorre sobre várias bênçãos trazidas pelo Messias e, ao mesmo tempo, menciona “o dia da vingança do nosso Deus” (v.2). Em Zacarias 9 ocorre o mesmo: bênçãos e juízos se intercambiam.

Nesse caso, o fato de João Batista ter mencionado antes e depois da promessa do revestimento de poder o juízo por meio do fogo (Mt 3.10-12) não oferece base suficiente para distinguirmos entre o batismo com o Espírito e o batismo com fogo.

De acordo com a analogia geral, o fogo não significa apenas juízo, mas também denota purificação, iluminação e fervor propiciados pelo Espírito. E, por isso, no dia de Pentecostes, “foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (At 2.3).

Finalmente, menciono a opinião do respeitado teólogo pentecostal French L. Arrington: “O batismo com fogo [...] não diz respeito, pelo menos primariamente, ao julgamento final e à destruição por fogo dos ímpios, mas aos acontecimentos momentosos do Livro de Atos. A unção com o Espírito não é identificada explicitamente com o batismo com o Espírito e com fogo, mas Jesus confirma a promessa de João Batista acerca do batismo [...], o qual é cumprido como ‘línguas de fogo’ que pousaram sobre cada um dos discípulos” (Comentário Bíblico Pentecostal, CPAD, p.335).

Em Cristo,

Ciro Sanches Zibordi